A dinâmica das manifestações e do Reino de Deus possui duas
dimensões: A eterna e a temporal, ambas só podem ser discernidas pelo
Espírito Santo em nós, de forma que só quem é espiritual consegue
compreender esse mistério. Mais, para ilustrar e informar a respeito do
assunto precisamos buscar auxílio na física quântica, não na teologia.
Como diz Caio Fábio: “A visão teológica é muito imatura, pois apresenta o
tema colocando Deus preso à linearidade do tempo. Nesse caso, Deus
escolheu antes, e nós cumprimos papéis, com uma liberdade que só existe
em nossa sensação de liberdade, mas que de fato, não o é, visto que
todas as coisas estão preordenadas antes de acontecerem”.
Só Deus
é. Só Ele pode afirmar “Eu Sou”, Ele é Deus de vivos e não de mortos,
pois, para Ele, todos vivem. Nós existimos no “cronos”. Caio Fábio diz
que: “... eu sou filho do tempo, e para mim o passado aconteceu, o
presente está sendo, e o futuro será! Mas para Deus, tudo o que está
acontecendo no tempo como sucessão de eventos — com passado, presente e
futuro —, simplesmente não acontece assim. As coisas são assim para mim;
porém, para Deus, tudo é; e tudo acontece em simultaneidade”. Ele sabe o
que se passa no passado e no futuro ao mesmo tempo, pois está acima da
dimensão do tempo, pare Ele só existe o Agora!
Outra questão é a
diferença entre o Evangelho do reino e a Graça de Deus; pois, na verdade
o Evangelho é um só com manifestações distintas, uma é a Graça e a
outra é o Reino, como ensina o teólogo Watman Nee, abordando a diferença
entre Salvação/Eternidade e Entrar no Reino dos céus. Ele prova, com
riqueza de textos bíblicos que não são a mesma coisa. A graça nos dá um
presente, a SALVAÇÃO, o Paraíso, a Eternidade, que de acordo com Paulo,
“não vem de vós é dom de Deus, para que ninguém se glorie”. Ou seja, na
Graça, qualquer pessoa recebe o presente imerecido de Deus, pelo
arrependimento e fé.
No Reino, eu recebo um prêmio pelos meus
esforços na caminhada do evangelho vivido, testemunhado e pregado, para
recebê-lo é necessário esforço; posso como embaixador em terra estranha,
usufruir de seus benefícios aqui, nesse tempo, mais seu Prêmio maior, a
Coroa (utensílio de Rei), Trono (posição de Reino), governo de cidades
(status de Rei), eu recebo ao ENTRAR no Reino com Jesus no MILÊNIO, que é
literal e não simbólico como muitos gostam de alardear.
Um
exemplo prático é o daquele diálogo de Jesus com o malfeitor da cruz que
foi crucificado juntamente com Ele, quando disse: “Jesus, lembra-te de
mim quando entrares no Teu reino”. (Lc 23:42). O Senhor Jesus não lhe
prometeu o reino, mas respondeu-lhe: “Hoje estarás Comigo no Paraíso”.
(v. 43). O Senhor não lhe negou a salvação, pois ele creu, invocou o seu
nome...; mas para o reino, faltou obras, faltou empenho, testemunho do
evangelho, batismo, etc. Uma vez que O invoquemos, podemos ir para o
Paraíso. Mas, a dinâmica de Deus para com a vida eterna e o reino dos
céus é diferente: um é o presente de Deus e o outro é a recompensa de
Deus.
Observe que Jesus diz para o malfeitor que “hoje mesmo
estarás comigo no Paraíso”; mais na verdade ele foi ao “hades”. A bíblia
diz: “que a sua alma não foi deixada no hades,” (At. 2.31). Ou seja,
cronologicamente; três dias ele passou no inferno, para deixar lá nossos
pecados – Lugar de pecado é no inferno! – Quarenta dias ele passou com
seus discípulos; (At. 1.3). Sendo no total quarenta e três dias até
subir definitivamente aos céus. Como então Ele afirma que “hoje mesmo
estarás comigo no Paraíso”? É porque o Paraíso é o céu, a morada de
Deus, lugar de vivos e não de mortos, é a Eternidade – ausência de tempo
– fora de nossa dimensão. Lá se encontram ao mesmo tempo, Abel, que foi
o primeiro a morrer, os demais depois dele, até ao ex-malfeitor, agora
crente e salvo pela fé; seguido de Jesus e Tiago, os demais apóstolos,
eu, você e nossos filhos e netos até ao último ser a morrer na graça,
porque também creu no sacrifício de Jesus como aquele ex-malfeitor. Por
isso, João pôde ver a multidão de mártires de brancos vestidos, sem que
no tempo presente nada houvesse ainda acontecido.
Muito bem; com
base na dinâmica do reino de Deus fora do tempo, já sabemos que Ele tem
conhecimento de quem creu e de quem não creu até a consumação dos
séculos, certo? Então, a predestinação só faz sentido do ponto de vista
atemporal, espiritual e sobrenatural. Pois sabendo de antemão quem crerá
e quem não crerá ele os trata como eleitos e perdidos na dimensão do
tempo, respeitando sua liberdade com paciência, mesmo sabendo que tal
pessoa jamais será salva. Assim, todos fomos predestinados para o
inferno em Adão, postos debaixo de Sua “ira”, onde sem derramamento de
sangue não há salvação e nem uma possibilidade de retorno ao Paraíso.
Então
entra em ação Seu plano maravilhoso, “o qual, na verdade, foi conhecido
ainda antes da fundação do mundo, mas manifesto no fim dos tempos por
amor de vós.” (I Pe. 1.20). Ele mesmo vem e derrama seu sangue em favor
de TODOS, dando ainda a liberdade de escolha; para quem crer, a
possibilidade de mudança na direção do seu destino; sendo novamente
predestinado (porque o plano de salvação, foi feito antes de todas as
coisas) para o céu, como era no princípio antes que Adão pecasse. Pelo
que diz: “Portanto, assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre
todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça
veio a graça sobre todos os homens para justificação e vida.” (Rom.
5.18) ALELUIA!!
Antes eu era predestinado para o império das
trevas, morto e morrendo na direção do inferno. Mais por causa do Seu
amor que me constrange, hoje e sempre, sou predestinado para a VIDA!
Vida Eterna com os santos nos céus! Por isso, quem crê na Graça, crê em
predestinação, mas não faz disso uma doutrina, pois sabe que Deus não é
doutrinável, nem estudável, sendo apenas conhecível pela fé. Assim, quem
crê, discerne; não explica. Quem crê, vive e caminha como testemunha do
seu amor e não como juiz da moralidade teológica, baseada na letra,
fria, morta, afirmando quem vai, ou não, ser salvo.
Célio Alves Nogueira
e-mail: celioanogueira@hotmail.com